Sunday, December 18, 2005

O JURAMENTO DO ÁRABE

Baçus, mulher de Ali, pastora de camelas,
Viu de noite, ao fulgor das rútilas estrelas,
Vail, chefe minaz de bárbara pujança,
Matar-lhe um animal. Baçus jurou vingança,
Corre, célere voa, entra na tenda e conta
A um hóspede de Ali a grave, a inulta afronta.

«Baçus, disse tranquilo o hóspede gentil,
Vingar-te-ei com meu braço, eu matarei Vail».

Disse e cumpriu.

Foi esta a causa verdadeira
Da guerra pertinaz, horrível, carniceira
Que as tribos dividiu.
Na luta fratricida,
Omar, filho de Anru, perdera o alento e a vida.

Anru, que lanças mil aos rudes prélios leva,
E que, em sangue inimigo, irado, os ódios ceva
Incansável procura - e é sempre em balde - o vil
Matador de seu filho, o tredo Mualhil.
Uma noite, na tenda, a um moço prisioneiro,
Recém-colhido em campo, o indómito guerreiro
Falou, severo, assim:
«Escravo, atende e escuta:
Aponta-me a região, o monte, o plaino, a gruta,
Em que vive o traidor Mualhil, diz a verdade;
Dá-me que o alcance vivo, e é a tua liberdade!»

E o moço perguntou:
«É por Alá que o juras?»
«Juro» - o chefe tornou.
«Sou o homem que procuras!
Mualhil é o meu nome, eu fui que espedacei
A lança de teu filho, e aos pés o subjuguei!»

E, intrépido, fitava o atónito inimigo.

Anru volveu: «És livre, Alá seja contigo!»

Gonçalves Crespo

1 Comments:

Blogger Maria said...

Miga, gostei da visita. É mesmo assim a vida. A minha, a tua e a de muita gente. Esperemos que se desenrole..
Beijos grandes

8:35 PM  

Post a Comment

<< Home