Sunday, June 18, 2006

Poema

EPÍGRAFE

Murmúrio de água na clépsidra gotejante,
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante,
- Assim se escoa a hora, assim se vive e morre...

Homem, que fazes tu? Para quê tanta lida,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a beleza, que a vida
É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa...

Eugénio de Castro, Horas, 1891

Tuesday, June 13, 2006

Homenagem a Álvaro Cunhal

Há um ano, morreu Álvaro Cunhal.
Morreu um Homem!
Um grande Homem!

Como prestar homenagem a uma pessoa como Álvaro Cunhal?
Não sei.
A tristeza invade-me.
Saudade? Sim, muita.
É um sentimento muito forte de perda, tristeza, mas também um grande orgulho pelo privilégio de ter conhecido um ser humano da sua envergadura.
Coerência, espírito de sacrifício, honradez, frontalidade, solidariedade, bondade, eram só algumas das suas características.
Dedicou toda a vida a uma luta donde nunca tirou benefícios pessoais, como se espera de um verdadeiro comunista.
O seu olhar penetrante, entrava-nos na alma e encantava-nos com a sua simplicidade.
A História do nosso país e da Europa, muito vai ainda ter a dizer sobre a sua vida e obra.
Tenho orgulho em lhe ter chamado camarada, tenho orgulho de ter sido chamada de camarada por ele.
Que o mundo não esqueça, que Portugal recorde e respeite a sua memória.
Que o Povo que ele tanto amava e respeitava, continue a acreditar que é possível vivermos numa sociedade melhor, mais justa e fraterna.

Até sempre, camarada Álvaro!

Sunday, June 04, 2006

Divagações

O dia está lindo.
Sentada na minha cama vejo o mar, azul, sereno.
Está tudo em silêncio apesar de serem 15 horas. É a vantagem de viver nesta casa. Dum lado gente e confusão barulho de vozes, crianças que choram porque querem ir à praia ou simplesmente porque a mãe não lhes compra o gelado. Do outro lado esta paz que me protege, que me envolve, que me isola do mundo.
De vez em quando uma gaivota passa e grita alto como se me chamasse a atenção para o dia bonito que está lá fora.
Por vezes, de manhã um pássaro poisa na minha janela e saltita de um lado para o outro. Adoro vê-lo. Fico quieta para não o assustar, ele vira a cabeça na minha direcção, dá mais uns saltos, confiante, e depois voa.
Ouve-se ao longe o barulho sereno do mar a beijar a areia.
Lembra-me uma cantiga da minha infância, "O mar enrola na areia, ninguém sabe o que ele diz, bate na areia e desmaia, porque se sente feliz.".