Friday, March 31, 2006

Portugal/Canadá

Portugal é um País com muitos imigrantes. É verdade e ainda por cima muitos estão ilegais. Quando vemos na televisão imagens de pessoas que são apanhadas sem a devida documentação para permanecer em Portugal, achamos, com toda a legitimidade, que as autoridades fazem muito bem em mandá-los embora.
São muitos. Tiram-nos postos de trabalho. São brasileiros, ucranianos, cabo-verdianos, angolanos, russos, etc., etc..
É natural expulsá-los!
Portugal é um País com muitos emigrantes. É verdade e ainda por cima muitos estão ilegais.
Qual é a diferença, em termos legais e humanos, entre a expulsão de ilegais por parte de Portugal, ou por parte de outro país qualquer? O Canadá, por exemplo.
Que "cara de pau" a de um país que tanta dificuldades levanta à legalização de emigrantes, estar agora a "chorar" a sorte dos nossos imigrantes que estão a ser expulsos do Canadá. Eles também não estão legais...
Se todos os países, onde estão emigrantes portugueses, resolvessem cumprir a lei e mandar embora os ilegais (como nós tentamos fazer), Portugal não teria metros quadrados suficientes para os acolher.
O que eu questiono é a razão porque ficamos indiferentes quando um angolano é expulso de Portugal e nos indignamos quando um português é expulso do Canadá.
Não pode haver dois pesos e duas medidas.

Friday, March 24, 2006

Para dois amigos apaixonados

Este poema de José Carlos Ary dos Santos, é um dos mais belos poemas de amor que já li.

Minha estrela da tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos me encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste de um triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de pranto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

Juntando a letra do Ary dos Santos à fabulosa interpretação de Carlos do Carmo, fica completo o encantamento.

Wednesday, March 22, 2006

Para uma amiga

Já do Mondego as águas aparecem
A meus olhos, não meus, antes alheios,
Que de outras diferentes vindo cheios,
Na sua branda vista inda mais crescem.

Parece que também forçadas decem,
Segundo se detém em seus rodeios.
Triste! por quantos modos, quantos meios,
As minhas saudades me entristecem!

Vida de tantos males salteada,
Amor a põe em termos, que duvida
De conseguir o fim desta jornada.

Antes se dá de todo por perdida,
Vendo que não vai da alma acompanhada,
Que se deixou ficar onde tem vida.

Luís de Camões